Não se vá embora. Deixe-se tardar. E fique, só mais um bocado… Aqui, a hora certa para sair, é a que vai sem pressas de chegar. A que foge ao trânsito por ficar presa num engarrafamento de ovelhas
pachorrentas, e a que segue uma intuição pouco indicada na esperança de se perder a meio caminho.
Em todo o caso, se se vier mesmo a perder, pode eventualmente dar por si a pensar que o melhor, talvez seja voltar atrás. Aí, não haveria que enganar: Seria só seguir o rasto das lembranças, ainda frescas como a relva cortada nessa manhã… A verdade é que, o caminho de regresso é sempre mais fácil de achar.
Mas, na maior parte das vezes em que cá vier, vai acabar por chegar são e salvo a casa, mesmo que já não se recorde bem que tipo de dever o chama segunda-feira.
Em todo o caso, vimos assim, avisar previamente: Poderá sofrer de um período de adaptação ao seu velho habitat. Quando sair do carro vai ver: A cidade a piscar eufórica, com as mesmas luzes histéricas de sempre, mas a parecerem mais ofuscantes do que nunca.
Talvez seja por não deixarem ver nem sombra, daquele que é o verdadeiro brilho das estrelas, que descobriu no Alentejo.
Além disso, vimos por este meio prevenir para o facto de que, talvez, se vá sentir ligeiramente tonto ao sair do carro. Visto de fora, à distância de um tempo passado longe, o carrossel onde antes andava todos os dias, pode torna-se subitamente nauseante.
Chegue à cama e deite-se ao comprido. Pode dormir descansado. Na manhã seguinte, pode não ser o arrulhar da rola a acordá-lo, mas, junto ao seu ouvido, haverá sempre uma brisa rasteira, a segredar-lhe o lugar onde mora a paz que na Herdade da Matinha encontrou: única e precisamente dentro de si mesmo.
É lá que ela estará a cada instante, pousada e quieta, no seu nariz. Se for próxima demais para ser verdade, basta fechar os olhos, e verá melhor. Há um fenômeno astronômico que se dá, àqueles que se entregam verdadeiramente à Herdade da Matinha: O de voltar mais leve, mas com uma bagagem a abarrotar com o peso das coisas mais importantes que há para levar na vida. Quer saber quais são? Vai ter de vir para sentir. Caso já o tenha feito, repita. Prometemos que não se vai esquecer.
